segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Greve de policiais: a causa do movimento, a visão da mídia e o governo

Fonte: Exame.com

Muitos, talvez, estranhem o tema do post de hoje. Esclareço: quando comecei o blog, deixem bem claro em minha primeira postagem que seguiria, aqui, a linha da sustentabilidade. Também expliquei que sustentabilidade é um conceito que engloba não só o meio ambiente, mas a economia e a sociedade também. Portanto, quando algo acontece em torno desses três pilares, me sinto obrigada a discutir o assunto. Hoje, falarei das greves dos policiais que vêm ocorrendo em alguns estados brasileiros, algo que envolve toda a sociedade. Querendo ou não, se as pessoas não possuem boas condições de trabalho, de saúde e de educação, principalmente, o meio ambiente é afetado, bem como a economia do país. Por isso a importância de se discutir esse tema: algo definitivamente não anda bem para esses policiais, e nós também somos afetados.

Do planejamento da greve do Rio de Janeiro eu já sabia há algum tempo, desde o começo do mês de janeiro, se não me engano, através de contatos nas redes sociais. A greve na Bahia, para mim, foi uma surpresa. Atualmente, policiais do Rio de Janeiro devem decidir hoje sobre a continuidade do movimento, enquanto que, na Bahia, o fim da greve foi decretado no sábado, dia 11/02, 12 dias após o início da paralisação.
Quanto às reivindicações, no Rio de Janeiro policiais pedem um piso salarial de R$ 3.500,00. Abaixo, as propostas oferecidas pelo governo do estado antes mesmo do início das paralisações, mas que não foram aceitas:


"Em janeiro de 2012, o salário inicial de um soldado PM ou do Corpo de Bombeiros era de R$ 1.277,13, sem incluir nenhuma gratificação.
Com o reajuste de 30% aprovado na Assembleia Legislativa por 60 votos a 1, o piso vai chegar a fevereiro ao valor de R$1.669,33. Com a menor gratificação, de R$ 350, e o auxílio-transporte, no valor de R$ 100, a remuneração chega a R$ 2.119,33.
A lei aprovada prevê ainda, em fevereiro de 2013, um novo aumento, em 24%. O piso chegará então a R$ 2.527,33, com gratificação e auxílio-transporte."
Fonte: G1.

Na Bahia, as reivindicações e a proposta ofertada pelo governo e aceita pelos grevistas podem ser conferidas no quadro abaixo:


Por fim, gostaria que vocês observassem a tabela a seguir, contendo o salário inicial de militares de alguns estados brasileiros. Em destaque, o salário inicial dos estados aqui comentados:
Fonte: Tribuna Hoje

Por que resolvi mostrar a você este quadro de salários? Eu quero que você, meu leitor, pare e reflita: se você, seu filho/filha, marido/mulher ou qualquer outro familiar fosse um policial militar (não esquecendo que há policiais civis envolvidos nos movimentos grevistas, apenas tomo os policiais militares por base), levando a vida que um militar leva, seja bombeiro ou soldado, trabalhando em número insuficiente para atender toda a demanda pública por segurança, quase sempre "correndo atrás" do crime (poucas vezes se ouve falar em casos descobertos com antecedência pela polícia, o que obriga os soldados, na maior parte dos casos, a tentar acompanhar os criminosos, prendendo-os, mas não os impedindo de cometer o delito), disponibilizando-se dia e noite à profissão, arriscando sua vida a todo o momento... Enfim, imagine você ou o seu familiar vivendo dessa maneira. Você acha que esse salário é condizente para o seu serviço?
Muitos compreenderão aonde quero chegar. Outros levantarão questões como: "Mas um policial sabe muito bem das condições da profissão e do salário antes de entrar para a PM", ou "Muitos ganham bem menos que isso no Brasil". A esses eu respondo: conhecer não significa aceitar. Professores se formam todos os anos nas faculdades brasileiras, e vão para as escolas públicas dar aulas ganhando uma miséria, tendo que aturar também, em muitos casos, o desrespeito dos próprios alunos, sem que a escola tome alguma atitude para protegê-lo dessas situações. Eles devem se conformar com o salário e as condições do seu trabalho, porque já os conheciam antes de entrar na profissão? Que eu saiba, ninguém é obrigado a assinar um contrato concordando a aceitar o salário indicado para o resto da vida. 
Também sabemos que muitas famílias sobrevivem com um salário mínimo ou menos no Brasil. A questão é que nenhuma família deveria viver com um salário mínimo. O ponto não é que eles ganham mais, mas sim que, no Brasil, muitos ganham mal. Todos têm direito a lutar por melhores condições de trabalho e por um salário condizente com seu serviço e que cubra, ao menos, suas necessidades básicas.
Deixo claro que lamento muito pela população baiana, principalmente, que obteve o maior aumento de homicídios depois do início da greve, comparado ao Rio de Janeiro. As pessoas, neste caso os civis, são os maiores prejudicados com esse acontecimento. Porém, gostaria de levantar um ponto que não vi a mídia levantar em nenhum instante: o índice de criminalidade na Bahia, antes da greve, já era alto:

"A Secretaria de Segurança Pública da Bahia apresentou hoje o balanço dos índices de violência registrados no Estado em 2011. De acordo com os dados do órgão, a Bahia registrou, no ano passado, 4.632 homicídios dolosos (com intenção de matar), montante 5,5% menor que o verificado em 2010 (4,9 mil casos). Foi a primeira queda no índice oficial do Estado nos últimos dez anos.
[...] Outros tipos de delitos, porém, apresentaram crescimento na comparação entre os dois anos, com destaques para os crimes contra o patrimônio. O número de registros de roubos a ônibus, por exemplo, teve crescimento de 27,8% e o de roubo de veículo, aumento de 10,9%.
[...] Apesar da queda no número de homicídios, outra modalidade criminosa que registrou forte alta no ano passado na Bahia foi a tentativa de homicídio, com aumento de 14,1% na comparação com 2010. 'Estamos no início de um processo, não estamos satisfeitos com os resultados', afirma Barbosa. 'Não estamos em clima de comemoração, mas não podemos desconsiderar que houve avanços.'"
 Fonte: Estadão, em 26/01/2012

Como pode ser visto, estes dados são de antes do início da greve. Observa-se quedas que são equilibradas com aumentos na criminalidade. Como bem disse o secretário Maurício Barbosa, não pode haver clima de comemoração. Portanto, como jogar toda a culpa pela criminalidade nas costas dos policiais? Para mim, o maior culpado de todos é o próprio governo baiano, que, aliás, não foge à regra do governo federal. Antes de pensar nas perdas causadas pela repercussão do movimento no carnaval, o governo deveria assegurar a segurança da população, em toda época do ano, e salários dignos aos seus servidores. 
Por isso, caro leitor, faço um apelo: antes de chamar um policial  grevista de safado, bandido, vândalo ou vagabundo, pare e se informe. Procure saber dos antecedentes, o porquê da greve. Repare que, tanto no Rio quanto na Bahia, a taxa de criminalidade já era alta antes mesmo do início da paralisação. Será mesmo que os policiais são os maiores culpados? E o chefe destes, o governo estadual, não é responsável pela segurança também? Falta vontade nos policiais para trabalhar, ou falta salário e homens em número suficiente na segurança pública?
Pesquisar é importante, porém, não acredite em tudo que vê. Sempre desconfie das informações que recebe, principalmente se forem notícias dadas de maneira totalmente parcial e favorável à apenas um lado da história, como a mídia vem fazendo. Notícia é imparcial, sempre. Procure outras fontes para formar sua opinião a respeito do assunto. Falando nisso...

"Equipe da TV Globo é expulsa por manifestantes

Acusados de manipular imagens e diálogos dos bombeiros, a equipe da TV Globo foi hostilizada e expulsa pelos manifestantes em Copacabana, que seguiram os jornalistas até que eles entrassem no carro da empresa e fossem embora. A conduta da TV Globo também foi questionada por algumas das pessoas que discursaram durante a manifestação. Ninguém ficou ferido na confusão."
Fonte: Jornal do Brasil

Pois é, como eu disse, sempre desconfie de notícias favoráveis a só um lado. Tudo pode ser manipulado com edições nas imagens, cortes nas falas dos envolvidos e mostrando ao público somente falas e vídeos que interessem ao propósito da mídia em questão.
Para encerrar a postagem de hoje, um depoimento:

"Emocionada, a estudante Ana Paula Fernandes Matias, mulher do sargento Matias, preso ontem sob acusação de não ter se apresentado ao trabalho, protesta. Ela garante que o marido estava no posto do Grupamento Marítimo (Gmar) na Barra da Tijuca, zona oeste da capital. Mas, como outros militares do Gmar, ele não usava o uniforme da corporação, em protesto.
'Estamos lutando por uma causa. Em momento algum abandonamos a população. Isso é uma covardia. O que eu falo para o meu filho, de 4 anos, que pergunta pelo pai, que é honesto, nunca respondeu a qualquer processo e está preso em um complexo de segurança máxima?', disse, emocionada."
Fonte: DCI

Ao ler esse depoimento, me passou pela cabeça: como justificar a uma criança que vivemos em um país onde aqueles que lutam por melhores condições de trabalho são chamados de vagabundos e bandidos, enquanto que um senhor, de nome Naji Nahas, preso numa operação denominada Satiagraha, acusado de participação em desvios de verbas públicas e lavagem de dinheiro, responsável pela quebra da bolsa do Rio de Janeiro, anda por aí, em liberdade?

*Atualizando: em assembleia realizada hoje, dia 13/02, bombeiros e policiais civis e militares, do Rio de Janeiro, resolverem suspender a paralisação.

Saiba mais:
-Sindicato dos policiais civis do RJ suspende participação na greve
-Policiais e bombeiros do Rio adiam decisão sobre greve

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