terça-feira, 6 de março de 2012

A usina hidrelétrica de Belo Monte, parte III - o Meio Ambiente

Rio Xingu. Fonte: G1.

Seguindo com as postagens sobre a polêmica Usina Hidrelétrica de Belo Monte, hoje iremos falar sobre a questão ambiental no projeto: o que declara a Norte Energia S.A. (empresa responsável pela implantação, construção e operação da usina) e o que declara os que são contra ao projeto. Esta será a última postagem sobre Belo Monte da série (mas não a última sobre o tema no blog!).
Para começar, vamos analisar declarações da Norte Energia:

Fonte: Blog Belo Monte
É interessante notar que, neste trecho do texto, onde a Norte Energia faz a comparação entre várias fontes de energia para mostrar que Belo Monte causará menos impactos ambientais, não foram citadas a energia eólica e a energia solar, fontes energéticas que, comprovadamente, causam menores impactos do que as outras citadas no texto. Trata-se de uma tentativa de omitir informações para convencer o leitor. Não é uma argumentação inteligente e clara, portanto, é falha. Já discutimos sobre as outras fontes de energia que poderiam substituir Belo Monte na postagem anterior sobre o tema, onde discutimos a questão econômica do projeto.

Outra declaração da Norte Energia:

Fonte: Blog Belo Monte
Realmente, o projeto foi modificado do original, diminuindo alguns impactos ambientais, porém, estes ainda são grandiosos. E comparar a área alagada da usina com a de outras usinas brasileiras não ajuda a diminuir o problema. É como comparar as diminuições no percentual de desmatamento das nossas florestas: podem diminuir de um ano para o outro, mas eles ainda existem, assim como os impactos grandiosos continuam existindo na construção da usina:

"O primeiro problema a ser abordado diz respeito à perda de área verde na região, tanto pelo alagamento que as seis barragens vão causar quanto pelo próprio desmatamento se, aqui, em desmatamento direto e indireto porque, longe de se limitar apenas ao que vai ser desmatado para a implantação dos canteiros de obras, estradas, e núcleos habitacionais, têm de se levar em conta o desmatamento que será causado pela atração populacional que um empreendimento deste porte atrairá para a região. [...]"

Vemos, no trecho acima, que não é apenas o alagamento que preocupa, mas também, o desmatamento direto, necessário para a construção da usina, e o indireto, causado pelo aumento populacional na região. Ainda sobre os impactos causados pelo alagamento da área:


"A área de alagamento a ser gerada pelos vários barramentos, no rio Xingu e Iriri, é outro ponto de preocupação, tanto pela área a ser alagada quanto pelas implicações geradas por ela. Já foi provado que a água dos reservatórios enfrentará sérios problemas de qualidade, relacionados à presença de metais, processo de eutrofização (que consiste na progressiva concentração de matéria orgânica acumulada em corpos d’água- rios e lagos), proliferação de vetores e mortandade de peixes, o que foi reconhecido pelo IBAMA no seu Parecer Nº 6, de 26 de janeiro de 2010(4).

Os dados sobre reprodução de peixes são insuficientes, podendo haver sérias perdas, tanto em biodiversidade quanto em produção de pescado e de espécies ornamentais. O mesmo vale para os grupos de animais terrestres, sendo que todas as considerações encontradas no EIA quanto aos impactos sobre estes grupos prevêem a perda dos habitats relacionados com a influência do rio, com ênfase para a floresta inundável.
Dentre estes impactos, vale ressaltar a provável redução de abundância de espécies utilizadas como caça, que são favorecidas pela disponibilidade de alimento nas florestas inundáveis nos meses mais secos. As águas paradas podem se tornar fontes de insetos vetores de doenças que venham atingir populações inteiras de forma tão severa a ponto de obrigar sua realocação.
(SANTOS, HERNANDEZ [Org.], 2009, P.174/175)
Os efeitos do barramento na própria população da região vão desde o avanço da malária, graças ao aumento do mosquito transmissor, até a privação de um dos principais meios de subsistência das populações tradicionais da região, já que a fauna ictiológica da região será drasticamente afetada pelo processo de eutrofização das águas.
Ainda conseqüência do reservatório a ser formado, existe ainda outro dano, não quantificado, oriundo da decomposição da área verde a ser inundada por conta das barragens. Essa decomposição vai gerar grandes quantidades de gás metano, gás que contribui de forma muito mais danosa que o gás carbônico para o aumento do efeito estufa.
O conjunto formado por Belo Monte e Babaquara teria um saldo negativo, em termos de emissões de gases de efeito estufa, quando comparado com uma usina termoelétrica à gás natural durante pelo menos 41 anos após o enchimento da primeira represa.

SEVÁ FILHO (Org.), 2005, P. 24)."


E olha mais um dado curioso: as emissões de gases de efeito estufa, devido ao desmatamento e alagamento da área da usina, terão um saldo negativo quando comparadas às de uma usina termoelétrica de gás natural, durante os próximos 41 anos! O que disse a Norte Energia mesmo, no primeiro trecho destacado aqui, na sua comparação com outras fontes energéticas? E você ainda acha que os impactos, mesmo que reduzidos, serão tão pequenos assim? Como eu disse, trata-se de omissão de informações. Exaltam-se os pontos positivos e esconde-se os negativos na propaganda da usina. Lembra do post sobre propaganda enganosa? Ele encaixa-se perfeitamente aqui.

Quer ver mais um exemplo de omissão de informação?

Fonte: Blog Belo Monte
Como foi explicado no texto do Humanos Direitos, o problema está no impacto ao habitat dos peixes, como a presença de metais, processos de eutrofização (aumento da quantidade de nutrientes na água, que leva a um aumento de algas no ambiente e, consequentemente, de organismos que as consomem, graças à abundância de alimento. Com isso, tem-se uma diminuição no oxigênio dissolvido na água, consumido pelos organismos, o que leva à mortandade destes, a sua consequente descomposição e diminuição da qualidade da água) e proliferação de doenças, não necessariamente em sua locomoção. Omitiu-se o verdadeiro impacto que será causado aos peixes, e destacou-se uma solução que não resolverá o problema da mortandade de peixes.

Um fato que acho importantíssimo de destacar é quanto ao Estudo de Impacto Ambiental e seu relatório (EIA/RIMA), documentação necessária para liberar um empreendimento deste porte. Segundo o IBAMA:


"O EIA do AHE Belo Monte, talvez represente hoje o estudo mais completo e abrangente efetuado no Brasil, não só em termo de quantidade de informações (cerca de 15.000 páginas), mas também na profundidade de alguns estudos temáticos, notadamente aqueles relacionados à socioeconomia, ictiofauna e aos estudos de remanso. O EIA conclui pela viabilidade ambiental do empreendimento, considerando importantes alterações no projeto inicial."

Infelizmente, sou obrigada a não acreditar no IBAMA. Isso graças às informações abaixo, já transcritas na primeira postagem sobre Belo Monte, tratando da questão social, mas importante de serem destacadas novamente:

"[...] Com a ajuda de técnicos, como antropólogos e biólogos do MPF, descobriu-se também que havia incompatibilidade entre os cronogramas da ELETRONORTE e do Estudo de Impacto Ambiental e seu relatório (EIA/RIMA). O término de uma das viagens de pesquisa estava previsto para novembro de 2001, mas o EIA/RIMA estaria pronto 8 meses antes, em março de 2001. Como pode o Estudo de Impacto Ambiental estar pronto antes do estudo de campo ser concluído? Para que tanta pressa no licenciamento de uma das obras mais caras do Brasil?

E mais. A ELETRONORTE contratou a FADESP – Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa, para a elaboração do EIA/RIMA, sem licitação, ao preço de R$ 3.835.532,00. O resultado jamais foi mostrado ao público."

Não posso confiar em um Estudo de Impacto Ambiental concluído antes mesmo dos estudos de campo, ou seja, antes de se observar a realidade do ambiente no local, na prática. Seria um relatório, se muito, feito com base em informações na bibliografia disponível sobre o local, mas não com a visão do ambiente atual. E ainda assim, como eu disse, se muito, já que, se nem o estudo de campo foi feito, não dá para confiar que o relatório tenha sido elaborado de modo adequado. Também não posso acreditar cegamente no IBAMA que, por mais que tenha a responsabilidade de zelar por nossos recursos naturais, vive sob pressão de interesses muito maiores, vindo dos grandes poderosos do país.

Por fim, uma lamentável notícia, não relacionada a Belo Monte, mas a outras usinas na Amazônia:

"Na última semana, a Procuradoria Geral da República anunciou que impetrou, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), com pedido de liminar, contra a Medida Provisória (MP) nº 558/2012, editada em janeiro pela presidente Dilma Rousseff. A MP excluiu 86.288 hectares de sete Unidades de Conservação (UCs) federais na Amazônia para abrigar canteiros e reservatórios de quatro grandes barragens: duas em fase de construção no Rio Madeira e duas previstas no Rio Tapajós no Pará.[...]

Como explica o coordenador da ONG International Rivers no Brasil, Brent Millikan, a gravidade é maior porque não houve a prévia realização de estudos técnicos e debate público sobre as usinas quanto e seus impactos sociais e ambientais, e alternativas: “O artigo 225 da Constituição Federal estabelece que a alteração e a supressão de áreas protegidas são permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Assim, causa estranheza autoridades do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) concordarem com a exclusão de áreas de UCs para abrigar os reservatórios de hidrelétricos, sem mencionar esse preceito legal. Alem disso, as usinas de São Luiz do Tapajós, Jatobá e Tabajara sequer possuem estudos de viabilidade econômica” completou Millikan.
Segundo o documento que embasa e justifica a Medida Provisória nº 558/2012, foi o ICMBio que propôs a diminuição das UCs. “O ICMBio, a partir de estudos realizados pela Eletrobrás e pela Eletronorte, encaminhou a proposta de redefinição dos polígonos do Parque Nacional da Amazônia, das Florestas Nacionais de Itaituba I, II e do Crepori e da Área de Proteção Ambiental Tapajós”, diz o documento.
Durante o ano de 2011, no entanto, gerentes locais do ICMBio responsáveis pelas UCs na região do Tapajós apresentaram uma série de pareceres técnicos contrários tanto à desafetação das unidades de conservação quanto à instalação de sete hidrelétricas propostas pela Eletronorte para a bacia do Tapajós (além de São Luiz do Tapajós e Jatobá, estão na lista as usinas de Chacorão, no Tapajós, e Cachoeira do Caí, Jamanxim, Cachoeira dos Patos e Jardim de Ouro, no rio Jamanxim)."

Fonte: Movimento Xingu Vivo Para Sempre, em 13/02/2012.

O que comentar depois de ver uma medida provisória do tipo, aprovada? Como você pode ver, existem informações desencontradas, principalmente quando se refere ao ICMBio (Instituto Chico Mendes). Trata-se de um ato inconstitucional e injustificável. Unidades de Conservação são de extrema importância para a conservação do bioma Amazônico. São, na verdade, a única garantia de conservação. Ou eram, ao menos. Se uma usina hidrelétrica é mais importante do que a proteção dessas unidades, é sinal de que a riqueza da biodiversidade brasileira nada mais vale para o governo brasileiro. E você, concorda com isso?

Finalizo aqui a minha série de postagens para explicar a vocês, meus leitores, o porquê sou contra a esse projeto. O foco do meu blog é a sustentabilidade e, justamente por isso, dividi o tema Belo Monte em questões sociais, econômicas e ambientais, pois, como expliquei no post sobre sustentabilidade, esses são os pilares do conceito. Deste modo, creio que ficou claro que, ao não levar em consideração nem um quesito sequer relacionado à sustentabilidade (a não ser o dinheiro para o governo e as empreiteiras, claro), Belo Monte está longe, mas muito longe de ser um projeto sustentável. É um projeto destinado ao fracasso, bem como o futuro do Brasil, se nossos governantes e população continuarem a pensar mais em acumular dinheiro do que desenvolver o país, de fato.

6 comentários:

  1. Oi!
    Preciso voltar com mais tempo, ler com calma.
    Maravilhoso seu blog. Parabéns!

    Ótima semana! Sucesso!!

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    1. Oi Maria!
      Faça isso, leia com calma, é melhor para refletir :)
      Obrigada e ótima semana para você também!

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  2. Não são as hidrelétricas que destroem as florestas da amazônia. As hidrelétricas não fazem nem cócegas perto dos verdadeiros desmatadores, que são os fazendeiros e madeireiros. Esses sim, desmatam e acabam com a floresta. Quem combate a construção de hidrelétrica dizendo que está protegendo as florestas, não tem a mínima noção da ordem de grandeza dessas duas fontes de desmatamento. O bife nosso de cada dia é o verdadeiro vilão. Que venha Belo Monte e todas as outras hidrelétricas que puderem ser construídas no Brasil. Que o professor Célio Bermann aprenda de uma vez por todas, que é melhor produzir alumínio aqui no Brasil com hidrelétricas, que ter de importá-lo de outros países que o produzirão com carvão mineral. Esse alarmismo sobre a eutrofização das águas é puro delírio teórico de algum ambientalista que não tem a noção do significado de USINA A FIO D'ÁGUA. Entre as opiniões do professor Luis Pinguelli Rosa e do professor Célio Bermann, fico com a do Professor Luis Pinguelli. Afinal ele faz parte da COPPE/UFRJ, que é a última palavra em energia elétrica no Brasil.
    Por mim, deveriam construir todas as demais hidrelétricas do Rio Xingú e aproveitar até a última queda d'água daquele rio. O projeto original, renderia 20.000 MW, com rendimento próximo de 75%. Mas para não mexer com meia dúzia de índios...

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    1. Anibal, em nenhum momento disse que as hidrelétricas são as maiores causas do desmatamento da Amazônia. Que Belo Monte irá destruir um bom pedaço de mata daquela floresta, creio que nem você e nem eu tenhamos dúvidas. O que está sendo discutido aqui, no entanto, não é nem isso. Como você mesmo disse, os maiores desmatadores são madeireiros e fazendeiros, mais especificamente os pecuaristas. Quando falamos de Belo Monte, estamos discutindo a perda da biodiversidade e o desrespeito à população que mora na região que, infelizmente, não é constituída por meia dúzia de índios apenas, como você mesmo pode verificar se pesquisar um pouco sobre Belo Monte, enfocando na questão social. As maioria das pessoas que moram na região atingida pelos impactos causados pela usina, tenha certeza, não a querem ali. E elas não são ambientalistas, são simples habitantes da região que não querem ser enxotadas da onde moram por uma indenização irrisória, ou para um local pior se comparado ao que elas moram. O impacto que esta usina causará à flora é óbvio, mas creio que seja maior ainda para a fauna. E tudo isso por uma usina em que o preço de seu megawatt-hora não paga nem o capital investido.
      Vale a pena desrespeitar tanta gente, causar um impacto ambiental tão grande, para uma usina que funcionará em sua capacidade máxima apenas por quatro meses, em um ano? Com tantas alternativas energéticas surgindo no mundo todo? Não se engane, toda matriz energética tem seus impactos ambientais. Se a hidrelétrica não polui o ar, como a usina à carvão, por outro lado causa todos os danos que citei. O Brasil não tem só água, tem muito sol e vento também. Está na hora de aprendermos a aproveitar todo o nosso potencial energético, para atingirmos um desenvolvimento sustentável, que vise nossa economia, nossa sociedade e nosso meio ambiente.
      E se você prefere um país que produza alumínio, para depois comprar o mesmo material por um preço muito maior, não compartilho da mesma opinião que você. É só parar e pensar quantos países desenvolvidos fazem isso que você sugeriu. Vivemos para sustentar a riqueza de outros países, seguindo esse caminho, e continuaremos sendo um país com grandes contrastes sociais enquanto não nos desenvolvermos de verdade, investindo em educação, tecnologia e mão-de-obra qualificada, e pensarmos que vale mais a pena construir hidrelétrica para vender alumínio pros gringos e pagar um absurdo ao comprar o mesmo material, já manipulado.
      Por último, não estou seguindo a opinião de UM especialista. Célio Bermann foi o especialista que escolhi aqui porque argumentou de forma inteligente sobre Belo Monte. O Pinguelli fez várias declarações preconceituosas, de quem parece nunca ter pisado na região Norte do país. Se o fez, posso concluir que sua opinião é preconceituosa não por falta de conhecimento, mas por ser formada com base em estereótipos. E sim, ele faz parte da COPPE, isso é relevante, mas não o suficiente para contar sua opinião como a única plausível. Não forme a sua opinião com base na de uma única pessoa. Forme sua opinião lendo muito sobre o assunto, pesquisando a opinião de diversos especialistas, tanto dos que pertencem à área energética, quanto dos que trabalham com fauna, flora, recursos hídricos, solo e questões sociais, assuntos intimamente relacionados com a hidrelétrica. Olhar apenas um lado da história é fácil. Buscar informações sobre todas as questões envolvidas com um projeto deste porte é mais complicado, mas é essencial, se você quiser formar uma opinião que analise a usina como um todo. Além disso, o professor Pinguelli é ex-presidente da Eletrobrás. Seria estranho se ele resolvesse falar mal de Belo Monte, não acha? Daí a importância de se buscar a opinião de outros especialistas, de outras áreas também.
      Obrigada pela visita e opinião!

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  3. Silvânia, muito obrigado pela dedicação na resposta. Espero não cansar você com meus argumentos.
    Assim, gostaria de insistir a respeito de algumas coisas que o Célio Bermann disse, e que me parecem ser ilógicas.
    Vamos a elas: Ter minério de alumínio e rios com potencial hidrelétrico, e não produzir alumínio, preferindo importá-lo mais caro, parece-me crime econômico nacional e crime ambiental a nível global. É cristalino, que o caminho lógico do nosso desenvolvimento, tendo a fonte de energia e as matérias-primas disponíveis é:
    1.Produzir minério
    2.Produzir alumínio bruto
    3.Produzir alumínio trabalhado
    4.Produzir bens de consumo.
    5.Produzir conhecimento e tecnologia

    Necessariamente nessa ordem. A ordem de desativação de qualquer dessas fases, seria a mesma: Deixar de produzir minério, deixar de produzir alumínio bruto... Até chegar ao estágio teórico de vender apenas conhecimento e tecnologia, sem precisar produzir nada...
    Não me parece sensato deixar de produzir alumínio, em podendo fazê-lo, apenas para evitar os impactos da construção de hidrelétricas. Mesmo porque, no balanço global, esses impactos seriam os menores.
    Quando o Japão decidiu parar de fabricar alumínio básico, não o fez com o propósito de evitar impactos ecológicos ou sociais. Foi uma escolha puramente econômica.
    Não é o estágio do Brasil. O Brasil precisa incentivar a produção de bens de consumo, e nisso o Célio Bermann tem razão. Mas o Célio se trai, quando sugere que para produzir bens de consumo, deve-se abrir mão de produzir o metal básico. O caminho natural, é esse que o Brasil está trilhando. O próprio Japão só parou de produzir o alumínio básico, muito tempo depois de estar produzindo os bens de consumo.
    Quanto ao impacto social de Belo Monte, acredito que a população não esteja sendo tratada com o devido respeito e com o cuidado que merece. Para corrigir isso, bastaria cobrar o respeito e cuidado no tratamento de cada um dos afetados, exigindo o pagamento de indenizações justas, e melhorando a vida de todos eles. Mas essa bandeira, por si só, não atrairia a mídia e essa legião internacional. Para os que moram em Altamira nas palafitas, duvido que a Norte Energia irá construir casas piores do que as que eles habitam hoje. Se preferirem morar naquelas palafitas, é caso de tratamento psicológico. E nessa cobrança das indenizações justas, a atual associação com os que combatem ecologicamente a usina, não ajuda em nada.
    O Célio Bermann argumentou exaustivamente no campo político. No único ponto em que ele tentou falar tecnicamente, cometeu um erro tão primário, que me fez duvidar de sua capacidade técnica. Ele afirmou que a usina de Belo Monte só terá sua capacidade máxima de 11.300MW realmente funcionando durante o ano todo, se forem construídas outras barragens rio acima,e por isso ele teria certeza de que as outras barragens seriam construídas no futuro.
    Se outras barragens serão ou não construídas, não temos como saber, pois não somos Mãe-Diná, como ele. A possível construção de outras barragens rio acima não seria, de maneira nenhuma, capaz de elevar a produção média anual de Belo monte, pois a quantidade média plurianual de água que passa em Belo Monte independe da existência de outras barragens rio acima. Isso está nos registros hidrológicos históricos. Apenas duas coisas(utópicas) seriam capazes de aumentar a quantidade de água que passa em belo monte: 1. Aumentar a bacia hidrográfica rio acima, derrubando serras inteiras, anexando áreas de outras bacias. 2. Fazer a dança-da-chuva.

    Continua...

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  4. Quanto à perda da diversidade biológica, ela já vem sendo perdida desde a fundação de Altamira, e seria perdida de qualquer maneira, mesmo que Belo monte nunca fosse construída. Talvez até mais rapidamente. Acredito que em outros lugares da Amazônia onde não estão sendo construídas hidrelétricas e onde elas nunca serão construídas, ocorrem as maiores e mais céleres perdas de diversidade biológica. Por isso, se alguém pretende realmente preservar a diversidade biológica está "cercando a passagem de um boi, enquanto toda a boiada passa bem às suas costas".
    Do ponto de vista da real eficácia na preservação da diversidade biológica, não faz sentido esse combate às hidrelétricas. A bandeira é bonita e a intenção é louvável, mas esse é o combate mais ineficiente e hipócrita que existe.
    Se você se der ao trabalho de olhar no Google Earth, verá que a área que será inundada, é quase inteiramente composta de pasto. Até eu darei uma de Mãe-Diná: Ao final de 2019, quando a usina estará 100% pronta, se ela não tivesse sido construída, toda a área que ela está inundando e desmatando, já teria sido convertida em pasto. Tudo seguiria seu ritmo, calma e silenciosamente, longe dos holofotes, como no resto do país.
    Quanto aos preconceitos do Pinguelli, são injustificáveis e lamentáveis, mas não invalidam sua capacidade técnica. No caso dele só me interessa o conhecimento técnico.
    É sabido no mundo todo que a COPPE é excelência em pesquisa de geração de energia elétrica. Logo, sua opinião serve como referência. Não que deva ser a única a ser ouvida, apenas não se consegue ouvir nenhuma opinião técnica vinda do professor Célio Bermann.
    Como você disse, com tantas alternativas para geração de energia elétrica surgindo no mundo todo, por que insistir em hidrelétricas ?
    Por um motivo simples: Nenhuma das alternativas é melhor que nossas hidrelétricas, ainda. Só a fusão nuclear a frio, quando, e se ela puder ser usada, será superior à hidrelétrica. A solar tem potencial teórico altíssimo, mas carece ainda de muito desenvolvimento, e ninguém sabe quando ela será competitiva. Não seria sensato apostar o futuro do país em pesquisas que podem demorar demais.
    A eólica já está muito próxima do seu estado da arte, e continua com seu custo total bem acima da hidrelétrica, não devendo apresentar ganhos significativos nas próximas décadas. Ademais, o vento, ao contrário da água, não pode ser estocado, e por isso toda usina eólica precisa de uma usina firme(geralmente termelétrica) de base, para contingência. Isso a encarece ainda mais, e a deixa eternamente taxada de insegura.
    Tenho buscado informações de todos os lados. Inclusive, li na íntegra, a entrevista do Célio Bermann. Li quase todo o "Painel de Especialistas". A minha impressão sobre o painel de especialistas, é que se fosse para pesquisar todas as implicações listadas no painel, seria impossível fazer a usina nos próximos 2 milhões de anos. Aliás, para qualquer obra, em qualquer lugar do mundo, se for feito um "painel de especialistas", com os mesmo critérios e premissas daquele, não se constrói nada, em nenhum lugar do universo, em menos de um milhão de anos.
    Tenho visto bastante material no youtube, com entrevistas dos moradores que serão desalojados, e na grande maioria das entrevistas, a principal queixa deles, refere-se à incerteza do local para onde seriam deslocados. Infelizmente, todas as entrevistas são editadas e reduzidas a meia dúzia de palavras, onde, na esmagadora maioria das vezes não é possível concluir se a pessoa é realmente contra, ou a favor da construção da usina.
    A construção de minha opinião não é espelho da opinião de uma só pessoa. Apenas disse que entre as duas opiniões conflitantes daqueles dois doutores no assunto, preconceitos fora, prefiro a do Pinguelli. Tenho bastante conhecimento e boa conceituação dos fundamentos da energia, suas transformações e seu uso. Minhas maiores lacunas são no campo dos ecossistemas, biologia e antropologia. Exatamente suas especialidades.

    Saudações.

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