terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A polêmica das sacolinhas plásticas


Atualmente, o acordo entre o governo paulista e grandes redes de supermercados firmado para eliminar a distribuição gratuita de sacolinhas plásticas tem gerado muita polêmica. Afinal, tal acordo realmente traz benefícios ao ambiente? Ou não passa de um golpe disfarçado de "verde e sustentável" ao consumidor?

Primeiramente, gostaria de deixar claro para vocês que uma das minhas maiores crenças é que as pessoas devem, antes de tudo, se informar sobre determinado assunto, para então opinar. De nada adianta alguém declarar que concorda com a construção de Belo Monte, por exemplo, "porque o Brasil não pode ficar atrás dos países desenvolvidos", ou discordar afirmando que "o ator fulano de tal disse que é ruim pro ambiente". São afirmações vazias, sem embasamento algum. Conhecimento e opinião são construídos com pesquisa. Para qualquer assunto, se informe primeiro, veja quem é a favor e quem é contra, avalie seus argumentos, conteste, e então forme sua própria opinião. É a partir deste ponto que se constrói uma discussão saudável.
Voltando ao tópico, andei me informando e buscando opiniões sobre esse assunto. Elegi o site Vamos Tirar o Planeta do Sufoco e o blog Sacolinhas Plásticas como representantes de opiniões favoráveis e contra à proibição do uso de sacolinhas, respectivamente.
Segundo o Vamos Tirar o Planeta do Sufoco:

"O setor de supermercados presta serviço à sociedade e procura atender todas as suas demandas, sempre em acordo com o bem-estar comum. A APAS (Associação Paulista de Supermercados) iniciou o projeto Vamos Tirar o Planeta do Sufoco, que visa substituir as sacolas descartáveis por reutilizáveis, exatamente atendendo a uma demanda dos consumidores, afinados às tendências da preservação ambiental que tem norteado as ações empresarias em todo o mundo. Por outro lado, este setor se antecipa à Política Nacional de Resíduos Sólidos, que entra em vigor em 2014, uma vez que todas as empresas serão obrigadas a recolher o lixo sólido que produzirem.
Esta ação requer uma mudança de hábitos da população, mas a APAS entende como necessária. Não se pretende substituir sacolas plásticas derivadas de petróleo por sacolas biodegradáveis de matérias-primas renováveis e sim estimular o uso de alternativas sustentáveis. A oferta de sacolas biodegradáveis, disponíveis em algumas lojas, é para ser apenas uma alternativa, pois o objetivo de toda a ação é pôr fim à cultura do descarte. Quanto aos produtos vendidos nos supermercados que geram resíduos caberá à industria fornecedora o seu recolhimento. Cada setor da indústria será responsável pelo seu material descartado, conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Os supermercados estão fazendo a sua parte e defendem que cada empresa e cada cidadão também faça a sua."

Agora, opinião do Sacolinhas Plásticas:

"Grandes supermercados, o governo paulista e a prefeitura da capital se uniram para salvar o planeta. Três gigantes do varejo vão transferir para você, consumidor, o custo, que era deles, de acondicionar as compras. 
A partir de janeiro, comprometeram-se a não mais oferecer de graça as sacolinhas plásticas. Vamos pagar aos supermercados pelas sacolas do bem, reutilizáveis ou biodegradáveis. 
Ai de quem reclamar. Prometem-se campanhas que vão transformar caixas de lojas em ativistas do Greenpeace. "É um preço modesto, senhor, para salvar a tartaruga marinha e desentupir nossos bueiros."
 Imaginemos que o plano dê certo e que todos passem a usar sacolas carimbadas pelo politburo verde. Um dos efeitos será o aumento relevante das vendas de sacos plásticos "do mal" para guardar o lixo doméstico. Aconteceu em cidades que adotaram essa prática. 
Do outro lado, o plástico "verde", que se degrada por exemplo em dois anos, lança o carbono de que era composto na atmosfera, atiçando o efeito estufa. A baleia jubarte terá menos sacolas para engolir, mas o Ártico vai derreter mais cedo. 
Racionalizar o uso de produtos danosos ao ambiente é justificável. Mas o volume desses resíduos será sempre acachapante no Brasil, destinado a elevar o nível de bem-estar de 200 milhões de pessoas. 
Sem coleta seletiva e reciclagem, a degradação ambiental estará assegurada por décadas. Pouco importa se o plástico é "do bem" ou "do mal". Se for 100% recolhido e reciclado, não vai parar no estômago do peixe-boi nem na boca de lobo da avenida Pompeia. 
São Paulo recicla menos de 1% de seu lixo. Em vez de lidarem com esse vexame, fruto da incompetência de sucessivas gestões, a prefeitura e o governo estadual preferem uma pantomima ecologicamente correta que pouco resolve."

Opiniões opostas apresentadas, dou agora minha opinião: As sacolinhas de polietileno são um problema? Sim, são. Demoram 100 anos para se decompor, aumentam o volume do lixo, principalmente o residencial, e causam sérios danos à animais marinhos, que ingerem o material por não saber diferenciá-lo do alimento.
Os supermercados faturarão com isso? Claro. No mundo em que vivemos, nada é feito se for para dar prejuízo. Vocês acham que as grandes redes de supermercado iriam retirar as sacolinhas de circulação se isso fosse prejudicá-las? Elas irão faturar sim, com o marketing ecológico e sustentável, com a venda de ecobags, com a venda de sacolas biodegradáveis e etc.
E então, o acordo é a solução de todos os problemas? Não, não é. Eu penso que não adianta tirar a sacolinha do supermercado se a população não entender o porquê disso. Sim, as pessoas entendem que a sacolinha suja, que aumenta o volume de lixo, mas se as pessoas realmente entendessem tal atitude, iam entender também que garrafa PET também é prejudicial ao ambiente, que alumínio é prejudicial, que papel de bala é prejudicial, e que até aquela bituca de cigarro que todo mundo adora atirar ao chão também é prejudicial. Deste modo, adianta concordar com a medida e continuar a jogar fora todo esse material, ou pior, a lançá-lo na rua, na correria do dia-a-dia?
Um dia desses, fui à padaria e presenciei a seguinte cena: uma mulher pediu à atendente uma quantia de muçarela fatiada. Prontamente, a atendente respondeu: "moça, ali na prateleira de frios já tem muçarela fatiada e embalada!". Olhei para a prateleira e fiquei surpresa ao notar que sim, a muçarela, o presunto, tudo estava embaladinho, em isopor e filme plástico. Ótimo, o atendimento foi agilizado e dois materiais que demoram décadas para se decompor foram utilizados sem necessidade, de uma só vez. Adianta tirar as sacolinhas do supermercado e permitir que tais desperdícios ainda ocorram? Ok, a proposta é que cada setor da indústria reveja seu modo de agir e produzir. E até quando iremos esperar por isso? Até as indústrias decidirem que plástico não vale a pena e se tornarem ecologicamente corretas? Será que isso demora?
Bom, enquanto esperamos, podíamos aprender a separar nosso lixo e destiná-lo para um local correto, a fim de ser reciclado. Funcionaria perfeitamente, se em todos os municípios houvesse coleta seletiva em todos os bairros, ou se todos tivessem carros para transportar seu material até uma dessas unidades. Isso porque nenhum catador de papel e nenhum ferro velho aceita isopor ou caixinha tipo Tetra Pak, pelo menos por aqui, por serem materiais pouco rentáveis. Aqui em Sorocaba, nos bairros mais afastados, se a pessoa não possuir um carro tem que ter muita força de vontade e consciência ambiental para tentar arranjar um modo de levar seu material reciclável até uma cooperativa. E isso é exigir demais de uma população que ainda não possui esse nível de consciência e enfrenta um dia-a-dia muito corrido, sem tempo nem para se alimentar direito. Fora que levar material para ser reaproveitado usando um automóvel polui né, é meio contraditório...
Ora - alguns dirão - mas todo mundo tem que ter consciência do que faz para o planeta! De que hoje em dia, é necessário possuir atitudes sustentáveis, então não se pode poupar esforços para reciclar. Concordo com essas pessoas. Eu sou uma pessoa que possui essa consciência, você pode ser, mas pode haver algum leitor que, como a imensa maioria da população, não se importa com isso. Tem gente que acredita que, a partir do momento que o caminhão de lixo passa na rua, seu lixo sumirá para sempre de sua vida e que sua parte foi feita, assim como os supermercados acreditam que sua parte também foi feita com este acordo das sacolinhas. Tem gente, juro para vocês, que até separa o lixo, coloca papel com papel, plástico com plástico e assim por diante, separados, cada um em uma sacolinha. E deixa tudo bonitinho para o caminhão de lixo recolher, tudo separadinho. É, parece brincadeira, mas é realidade. É para essas pessoas que eu peço coleta seletiva no bairro. Quanto maior o acesso ao meio correto de descarte, melhor. E, infelizmente, isso é uma falha do poder público de qualquer município do Brasil.
Nossa realidade nada sustentável é profunda demais para ser mudada com um acordo de boicote à sacolinha. De nada adianta o supermercado fazer sua parte, e as indústrias, as pessoas em suas casas, não fazerem. De nada adianta implantar um acordo desse tipo e não pensar em mais nada, não planejar facilitar a vida das pessoas, auxiliando-as no descarte correto de resíduos. É uma atitude positiva, mas o que eu queria é que, antes dela, o poder público ampliasse a rede de coleta seletiva nos municípios, mostrasse que sacolinha, sendo distribuída ou não, tem que ser reciclada, como qualquer outro plástico. Isso é ser sustentável.

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